sábado, 6 de novembro de 2010

Arquivos online, uma história bem enrolada!

Projetadas na mesa-redonda Coleções fotográficas online, da Casa de Rui Barbosa, as duas fotografias – muito parecidas, do mesmo assunto (estátuas de faraós do Egito), do mesmo ano (1872) – escancaram uma questão advinda de navegações virtuais: o efeito (e possíveis atenuantes) do tempo sobre as fotografias.

Perceba-se as diferenças de estado, do material e da imagem. Ambas são da Collecção D. Thereza Christina Maria. A da esquerda, de um dos álbuns preservado à maneira tradicional; a outra, uma das 590 fotos “enroladinhas” da coleção, um sucesso do acaso... 
Projeção BN Digital na FCRB - A. Ramos, 2010
Em 1891, após a morte da esposa, no exílio de Paris, D. Pedro II, em nome dela, doou os objetos da Quinta da Boa Vista (incluindo 23.000 fotografias) à Biblioteca Nacional, à época ocupando um prédio da rua do Passeio. Transferidas para o prédio atual, a maioria das fotos continuou em molduras ou álbuns, e as avulsas foram fechadas em caixas de folha-de-flandes. Abertas mais de um século depois, estas fotos, enroladas por efeito da umidade e jamais expostas à luz, apresentavam imagens bem melhores que as outras!...

Nem todas as fotos antigas tiveram tal sorte, e surgem perguntas... Devem ser apresentadas com as marcas do tempo? No tom sépia (vide postagem anterior) do envelhecimento “natural”?... Ou, desde que preservado o conteúdo, da forma mais nítida possível, com cada detalhe realçado por um “banho” de Photoshop?...
A questão, agora, brotou no Blog da Josefina, do incansável fotógrafo e comentarista, Cláudio Versiani, que compara a primeira foto a mostrar um ser humano, um daguerreótipo do próprio Daguerre (Paris, 1838), com a versão colorizada, quase psicodélica (na minha opinião...), do blog Lunarlog
E floresceu no Fotomix’s Weblog, de alta qualidade reflexiva sobre técnicas fotográficas, onde o autor, Guaracy Monteiro, usa o Google para mostrar múltiplas e evidentes variações de imagens bastante conhecidas. 
Concordando no geral, observo, porém, que embora algumas intervenções tendam para a pop-art, outras podem ser práticas e úteis, se não pretenderem substituir a imagem original, mas apenas “atualizá-la” ou destacar aspectos (contraste, grão etc) que acrescentem informações. Em suma, como sempre, não há certezas...

Ainda bem que há quem cuide de guardar, registrar e, uma hora dessas, possibilitar ás fotos históricas ressurgirem à nossa frente!... 
Exatamente o assunto da mesa-redonda. 
Projeção Arquivos Pessoais FGV na FCRB - A. Ramos, 2010


Martina Spohr, afirmativa, apresentou o programa de digitalização de Arquivos Pessoais da Fundação Getúlio Vargas, que pretende, ao final de 2011, ter suas atuais 80.000 fotos acessíveis para pesquisa online, com a utilização de seu próprio sistema, mais eficiente que o Picasa, detetor e identificador de faces.
Reprodução da Internet

Com graça, Lúcia Maria Velloso de Oliveira apresentou a base Iconografia da Fundação Casa de Rui Barbosa, que vem sendo integrada às bases “descritivas” do acervo, visando futura integração das pesquisas. Com imagens de Rui Barbosa, do museu e de eventos, foi aberta aos internautas em plena comemoração dos 80 anos da Casa de Rui Barbosa, no Dia Nacional da Cultura, 05/11, data do seu nascimento.

E, fechando o círculo, falou pela Biblioteca Nacional o animado trio Vinicius Martins (autor da comparação visual acima), Ângela Bittencourt e Geraldo Gonçalves, apresentando, além do trabalho de digitalização das fotos de Pedro II, o portal digital conjunto com a Biblioteca Nacional francesa e vários projetos para 2011.

Nas três instituições, as fotos estão disponíveis na Internet para cópia em baixa resolução (72dpi) ou em pdf, mas sofrem restrições para outros formatos e usos, dependendo de complicadas questões de direitos autorais, de imagem etc, que as instituições até tentam contornar. Assunto para outra postagem, talvez, mais precisamente, para uma outra legislação...

Lúcia (FCRB), Martina (FGV), Johanna (USP), Vinicius, Ângela e Geraldo (BN) - A. Ramos, 2010
Moderada pela Profa. Johanna Smit, da USP, a mesa (mais um paradoxo do dia!) não era nada redonda, e sim retangular, até bem comprida... 
Em compensação, mostrou-se profundamente envolvida, enrolada mesmo, no papel (do presente!) de um efetivo esforço de disponibilização online de acervos fotográficos, para nossa comemoração!...

4 comentários:

Teleobjetiva disse...

Parabéns pelo blog. Estou seguindo...

Ana Motta disse...

Guina, fico feliz de aprender com vc sobre imagem e história em seu BLOG.
Mas, como são muitos assuntos, preferi me concentrar no primeiro: na minha opinião, em nome da importância do registro na História, acho que os dois tipos de fotografia devem ser preservados e divulgados: além de retratar uma imagem, estarão contando a história e a metodologia da produção da imagem.
Assim, pra mim, é melhor.

Claudio Versiani disse...

Caro Mestre Guina, a minha única certeza é que o daguerreótipo de Daguerre não deveria ter sido colorizado.
Como sempre, belo post.
Gracias pelo link.
Ab.

Aguinaldo Ramos disse...

Aos eventuais leitores dos comentários, alerto para que se tome o devido cuidado em relação ao mais recente deles, enviado por College of Science e assinado por Qassim & QU.
Pelo que pude checar no Glooge, através de pesquisa que não incluiu o uso dos links, trata-se de uma universidade da Arábia Saudita.
Fico lisonjeado pela distância do interesse pelo meu blog, mas um tanto ou quanto preocupado com a confiabilidade da conexão...