No dia 23/10/2010, Pelé comemorou 70 anos. No correr da semana, merecidamente, mais do de sempre: muitos elogios à sua arte e algumas ironias sobre as suas opiniões...
Vídeos e fotos, evidentemente históricos, marcaram o momento. Algumas destas escolhas, porém, foram chutes contra o gol da História...
O jornal O Globo, na série de cinco reportagens publicadas de 3ª-feira (19) a sábado (23), abriu, no dia 20, o Caderno de Esportes com uma “foto-alegoria” aos 1.000 gols de Pelé, creditada a “Keystone/1969”.
Foto de Sergio Jorge - Santos, 1969 |
Na 6ª-feira, 22/10, certamente cedendo a reclamações, publicou a nota “’Manchete’ fez foto dos mil”, informando que “a foto foi feita pelo fotógrafo Mituo Shiguihara, na Vila Belmiro, por iniciativa do diretor de redação da época, Zevi Ghivelder”, numa correção a posteriori do crédito da foto, trocando a empresa que a vendeu por um detalhado informe sobre a autoria...
[Em Julho/2011, o fotógrafo Sergio Jorge reivindicou o crédito e contou a verdadeira história da foto, veja em A foto de imprensa e as questões do momento]
[Em Julho/2011, o fotógrafo Sergio Jorge reivindicou o crédito e contou a verdadeira história da foto, veja em A foto de imprensa e as questões do momento]
Por outro lado, não publicou um dos registros mais perfeitos de uma bicicleta futebolística, a foto de Alberto Ferreira, do concorrente Jornal do Brasil, do jogo da Seleção contra a Bélgica, em 1965, no Maracanã.
Foto de Alberto Ferreira - Rio de Janeiro, 1965 |
Foto que o Jornal do Brasil (não mais em papel...), com fotografias do CPDoc JB (sem créditos), incluiu na galeria Pelé, 70 anos de reinado e também no vídeo Pelé 70 Anos, que atualiza a postagem 23 de outubro de 1990 - Pelé completa 50 anos de seu JBlog.
No entanto, não publicaram outra emocionante foto de Pelé, do mesmo Alberto Ferreira, que rendeu a ele e ao JB o Prêmio Esso de Fotografia de 1962...
Foto de Alberto Ferreira - Copa do Chile, 1962 |
Jogo duro...
Sucessivas publicações das fotos na imprensa (ainda mais com a intermediação de agências) tendem ao sumiço dos créditos; concorrência entre os veículos de imprensa leva à desvalorização (e ao esquecimento) do trabalho e da obra alheios...
Em outras palavras, possíveis citações (e publicações), que acrescentariam valor histórico às fotos, podem ser bloqueados por desinteresses (e interesses...) amesquinhadores.
O lance é ficar atento à jogada. O jogo (a História, a vida) não se ganha no grito, a partida não termina de repente: há uma prorrogação contínua...
E se é para homenagear os 70 anos de Pelé, as revista Manchete e Fatos & Fotos (desaparecidas testemunhas de sua carreira) entram nesta história (parcial, como todas).
Foto de Orlando Abrunhosa - Copa do México, 1970 |
Em gesto muito próprio, pelo fotógrafo Orlando Abrunhosa, a foto síntese, foto ícone, foto símbolo: Pelé, um vitorioso!
6 comentários:
Fala Mestre Guina...
O Pelé foi lá pra Josefina.
http://blogdajosefina.wordpress.com/
Vou pôr um link do Foto Histórica no nosso blog, acho que se complementam no tema. Fizemos um post sobre a foto do Mituo e a nota que o Globo deu corrigindo informações (no Globo saiu como sendo foto da Keystone). Como tenho muitas edições da Manchete em função da pesquisa feita para o livro, de vez em quando reproduzo fotos marcantes do velho arquivo. Quando puder, vá ao arquivo do paniscumovum, é uma consequência natural e o mesmo espírito do livro que fizemos: a ideia é registrar os bons momentos profissionais de tantos colegas na Bloch e em outros veículos do Rio.
POBRE POVO, QUE DE TÃO POBRE NEM DE CULTURA É ILUSTRADO... Que Pelé levantou o nome do Brasil, está claro; agora, alabá-lo após tantos anos, é pauperismo cultural: não teremos poetas, líderes comunitários, cientistas, descobridores etc para comemorar, nesses 70 anos?
POR OUTRO LADO, há uma imprensa vendida ao capitalismo, seus empregados bem enquadrados na ideologia consumista, eventualmente ameaçados de desemprego, que só publica o que interessa ao sistemão: corrida de automóveis, intermináveis campeonatos de futebol, voleibol, frescobol, cu-bol (em todas as divisões: série A, série B, até a série Z de Zebrinha- se fizer falta, vão buscar torneios italianos, espanhóis, ingleses, nepaleses e das Terras Austrais Francesas)... aniversário da "socialite" Tal, natal do clube Y, assassinato ocorrido na favela X, lançamento do imóvel Jardim Merdil...
QUANTO À CRISE "IN AETERNAM" em que vive o povão e que não tem nada de conjuntural (como na Europa), nem uma bostinha...
Depois a Globo alardeia: IMPRENSA É 'CURTURA'...
PIOR QUE NOSSA IMPRENSA ESCRITA, FALADA, TELEVISIVA E CAGADA, só nossas escolas...
O povo escolhe seus heróis. Em parte induzidos pelos que fazem História. E a mídia a faz muito eficazmente. Aí os arautos da governamentalidade se interpõem e aproveitam. Sempre fica um pouco da sabedoria popular, mesmo nas coisas mais espúrias.
Pelé é um grande nome. O nome maior do que o jogador, na minha impressão. Sou mais Garrincha e Nilton Santos. Ambos muito mais jogadores e muito, mas muito mais românticos. O primeiro, transgressor, bêbado, mulherengo descaradamente. O outro, um gênio, articulado, mas tímido, desconhecia o que o Pelé sabia de sobra - se autopromover. Contudo, inegavelmente um gênio do futebol, que se tranformou em um ícone do esporte. Mundialmente (re)conhecido. Sabido! Soube utilizar o tempo presente como poucos. Daí ficar meio que opaca a genialidade dos demais. Livrinho para aclarar as coisas como aconteceram: 1958- o ano que não deveria terminar (ou coisa que o valha).
Carlos,
seu comentário levanta boas questões: a indução, o romantismo, a manipulação...
Ok, concordo no geral. Mas, tudo isto vai tendo validade e intensidade com o correr do tempo, após sua fase como atleta. E aí, concordo que Pelé soube muito bem se autopromover, mas tb teve um reconhecimento merecido.
Para mim, a chave está na base: se alguém se der ao trabalho de ver os vídeos sobre Pelé, verão uma incrível sucessão de gols feitos das mais variadas formas, com uma eficiência e com um vigor que impressionam.
Tá certo, Garrincha tb foi incrível (até mesmo como finalizador, qdo foi preciso, no Chile/62, p.ex.) e Nilton Santos era a sabedoria, a Enciclopédia, um que organizava a cabeça dos outros.
Acontece que o gol é a síntese dos esforços e das artes do futebol. Podem ter certeza de que já vi milhares de gols, ao vivo, na TV, no cinema, na internet...
Mas fazer gols igual a Pelé (que não vi ao vivo) ainda não vi!
Muito bom conhecer este espaço e desfrutar um pouco com essas histórias dessa nossa paixão.
Aliás, nesta reportagem sobre PELÉ, foi uma mistura de duas paixões.
Gostei muito de conhecer seu espaço.
Um abraço!
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