Não que o Campeonato Brasileiro de cada ano (depende das chances do seu time...) seja desinteressante.
Desta vez, melhor pensar no grau de condensação simbólica que uma fotografia pode adquirir no tempo, este grande solucionador de dúvidas...
É do que trata a ideia de foto síntese, que, improvisando uma definição, seria “a fotografia capaz (para toda uma maioria de observadores) de fazer (ou ser) o resumo, o sumário, a síntese (o símbolo mais compacto possível) de um tema, assunto, evento, período etc”.
Foi o assunto do evento Foto Síntese , da ECO/UFRJ, usando como exemplo o futebol brasileiro. Seu melhor momento, sem medo de errar, é a conquista da taça Jules Rimet, a Copa do Mundo... É nossa, mas, hoje, apenas na memória: foi roubada e derretida em 1984... Sendo apenas um exercício e o assunto de amplo conhecimento, ao menos para a minha geração, considerei a pesquisa como feita e escolhi logo as fotos sínteses de cada Copa: Bellini levantando a taça, Garrincha garantindo o Bi, Pelé liderando o Tri.
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Bellini - s/d, Suécia, 1958 |
A Copa de 1958 foi a da “superação”. Para o futebol, das lembranças da “tragédia” de 50, do “Maracanazo”. Para o povo, a nação, do “complexo de vira-lata”, que Nelson Rodrigues definiu como “a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.
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"Estátua do Bellini" - AR, 2010 |
O gesto de Bellini, levantando a taça que representa o mundo acima da cabeça do rei da Suécia, sintetiza o momento. E o fez, detalhe, em vez de colocar debaixo do braço e sair, a pedido dos fotógrafos...
Tão marcante, que ao erguerem à frente do Maracanã, no Rio, após a Copa de 62, uma estátua “genérica” aos campeões, o povo logo a nomeou a “Estátua do Bellini”, como conta Ruy Castro, com humor, na revista Brasileiros.
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Garrincha contra Chile - s/d, Chile, 1962 |
Em 1962, caçado implacavelmente nos gramados do Chile, mas driblando todos os obstáculos (principalmente os extracampo, da paixão vulcânica por Elza Soares à expulsão na semifinal), Garrincha foi a peça chave da vitória do Brasil, nesta que foi a Copa do “jeitinho”..
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Capa "Veja na História" |
Simbolizando um país que se desenvolvia à base de muita “malandragem”, a genialidade de Garrincha (o “Anjo das Pernas Tortas”, para Vinicius de Moraes) é tão reconhecida que até no futuro se tornou capa de revista...
A Copa de 1970 é a da “qualidade”. A da preparação do time, um tanto militarizada, mas, principalmente, a dos jogadores, o melhor grupo, comprovado em campo, já reunido. Sua eficiência, aliada à paixão do brasileiro, possibilitou à arte do futebol ganhar da tensão política produzida pela ditadura civil militar do golpe de 64.
Predominou a ufanista "Os Incríveis.
Pelé foi o craque do time, o Rei, mas sua corte (com ele, na foto, Tostão e Jairzinho) era do mais alto gabarito...
Aproveitemos para observar um exemplo da composição da imagem como diferencial na escolha. Alguém deixaria de escolher a da esquerda?...
São fotos horizontais, mas costumam receber um corte vertical, para destacar os jogadores.
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Gol de Pelé - Orlando Abrunhosa, México, 1970 |
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Gol de Pelé - Lemyr Martins, México, 1970 |
Ora, não há melhor mandato histórico para uma fotografia do que ser copiada (e à mão!), traço definitivo de sua importância social.
Em 2010, a revista digital Sete Fios homenageou as vitórias em Copas com uma série de charges. Com exceção de 58, é o mesmo resultado. . Bem antes, em 1970, logo após o Tri, os Correios lançaram a série de selos que homenageia a conquista da Jules Rimet, calcadas em fotos (o lance de Garrincha na de 62 é meio estranha...).
. São exemplo que ajudam a corroborar as, no caso, quase intuitivas escolhas destas fotos sínteses.