Circula pela internet, como anexo, uma projeção de fotos que mostra encontros importantes (e muitas vezes inusitados) de artistas e políticos americanos e europeus, um PowerPoint editado (diz o crédito) por Terezinha Casalecchi (tcasalecchi@gmail.com), de Bauru.
Eis aí um mote interessante... Certamente há no Brasil, registrados pelos nossos fotógrafos, um rol de encontros inusitados ou inesperados, e pode-se lembrar aqui de alguns deles, dando preferência às áreas da política e da diplomacia, até porque, sendo nossa referência a fotografia, precisamos mesmo de algum foco...
Eis aí um mote interessante... Certamente há no Brasil, registrados pelos nossos fotógrafos, um rol de encontros inusitados ou inesperados, e pode-se lembrar aqui de alguns deles, dando preferência às áreas da política e da diplomacia, até porque, sendo nossa referência a fotografia, precisamos mesmo de algum foco...
No campo da diplomacia, encontros de primeiros mandatários são comuns, e no Brasil sempre tiveram alta prioridade as visitas dos presidentes americanos, que foram importantes, é claro, mas, sendo sempre esperadas, são assunto para outro momento...
Jânio Quadros e “Che” Guevara - Brasília, 1961
|
Em outros níveis, os encontros talvez surpreendam mais... Um dos mais polêmicos aconteceu em 1961, quando o presidente Jânio Quadros, conservador de direita, outorgou a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração brasileira para estrangeiros, ao esquerdista líder revolucionário (e, à época, ministro) cubano, o argentino Ernesto “Che” Guevara. Para os motivos do gesto de Jânio, que provocou um conflito com Carlos Lacerda, há várias versões: um mero gesto de amizade (Jânio, ainda candidato, esteve em Cuba em 1960), um pedido do Vaticano para intermediar a crise governo/igreja em Cuba e até um apoio secreto a John Kennedy, presidente americano...
Cabe lembrar que a renúncia de Jânio à presidência ocorreu apenas seis dias depois, em 25 de Agosto de 1961, há exatamente 50 anos.
Cabe lembrar que a renúncia de Jânio à presidência ocorreu apenas seis dias depois, em 25 de Agosto de 1961, há exatamente 50 anos.
Pelé e Robert Kennedy - foto Life, Rio, 1965 |
Outro encontro dos mais inusitados foi o de Robert Kennedy e Pelé, em 1965. Após assistir ao jogo entre os selecionados de Brasil e União Soviética (justamente o grande inimigo americano da Guerra Fria de então...), Robert Kennedy, virtual candidato à presidência dos EUA, acompanhado por fotógrafos (inclusive um da revista Life), desceu ao vestiário do Maracanã para se encontrar com Pelé, que, entre surpreso e divertido, o recebeu ainda ensaboado, enrolado em uma toalha!
Uma jogada de marketing?... Um trunfo diante dos eleitorados negro e latino, tentando ocupar o lugar do irmão John, assassinado em Dallas, em 1963?... Embora tenha negado a interlocutores a candidatura, Robert Kennedy, no encontro com Pelé, parece estar o tempo todo posando para um previsível futuro cartaz de propaganda. Como não há garantias, seu encontro com a morte, também por assassinato, aconteceu antes...
Os encontros entre antigos inimigos políticos são, para o bem ou mal, dos mais espantosos eventos da política brasileira.
Convertido de comunista a direitista no final dos anos 30, Carlos Lacerda foi, por mais de uma década, inimigo ferrenho de Getúlio Vargas (é considerado o pivô de seu suicídio) e do seu pupilo, o futuro presidente João Goulart.
Assumidamente golpista, Lacerda, liderando a UDN e buscando apoio nos militares, tentou derrubar Juscelino Kubitschek antes mesmo de sua posse e fez novas tentativas durante o mandato.
Candidato declarado à presidência, foi surpreendido pelo sucesso e eleição de Jânio Quadros, com quem logo se indispôs, em 1961. Pouco depois, ajudou a derrubar Jango, apoiando o golpe civil-militar de 1964, o que lhe abriria caminho para a presidência...
Com a consolidação da ditadura, aceita a sugestão indireta de JK, exilado em Portugal, de formarem uma Frente Ampla, tentativa de reunir a oposição, e se encontra com ele em Lisboa, em novembro de 1966. Diante da desconfiança de que seria o maior beneficiado, resolve se encontrar com João Goulart, exilado em Montevidéu, em setembro de 1967, atitude que também provocou reações negativas, tanto da direita quanto da esquerda.
Assumidamente golpista, Lacerda, liderando a UDN e buscando apoio nos militares, tentou derrubar Juscelino Kubitschek antes mesmo de sua posse e fez novas tentativas durante o mandato.
Jango e Lacerda na Frente Ampla - Montevidéu, 1967 |
Candidato declarado à presidência, foi surpreendido pelo sucesso e eleição de Jânio Quadros, com quem logo se indispôs, em 1961. Pouco depois, ajudou a derrubar Jango, apoiando o golpe civil-militar de 1964, o que lhe abriria caminho para a presidência...
Com a consolidação da ditadura, aceita a sugestão indireta de JK, exilado em Portugal, de formarem uma Frente Ampla, tentativa de reunir a oposição, e se encontra com ele em Lisboa, em novembro de 1966. Diante da desconfiança de que seria o maior beneficiado, resolve se encontrar com João Goulart, exilado em Montevidéu, em setembro de 1967, atitude que também provocou reações negativas, tanto da direita quanto da esquerda.
Carlos Lacerda entrevista Roberto Carlos - Gil Pinheiro, 1970 |
Às vezes, os inimigos se encontram, mas nem por isto se associam... Na série de depoimentos A História bem na Foto, Alcyr Cavalcanti relembra o inesperado encontro, no natal de 1982, entre Leonel Brizola, governador do Rio de Janeiro, e Roberto Marinho, proprietário das Organizações Globo.
Um encontro até então inimaginável, considerando-se o papel do conglomerado Globo na tentativa de fraudar a eleição de Brizola como governador, o chamado caso Proconsult. Pelo que consta, Brizola e Roberto Marinho continuaram irremediavelmente inimigos.
Brizola e Roberto Marinho - Alcyr Cavalcanti, Rio, 1982 |
Mas também é certo que as necessidades da política podem fazer milagres... O próprio Brizola, na eleição de 1989, teve que "engolir" Lula, o “sapo barbudo”, e apoiá-lo na disputa contra Fernando Collor. Um momento, aliás, em que, mais uma vez, as Organizações Globo interferiram na eleição, favorecendo Collor na edição do debate entre os candidatos. O tempo passa e Collor, depois de deposto por um impeachment (que a própria Globo apoiou), retorna à vida política, elegendo-se senador por Alagoas, e se une à base que apoia Lula, presidente desde 2002.
Em certo momento, na posse do presidente do Supremo Tribunal Federal, em 2008, o cordial encontro entre os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva e José Sarney.
FHC, Lula, Collor e Sarney - André Dusek, Brasília, 2008 |
A política pode transcender partidos e governos e produzirem encontros ainda mais memoráveis...
Altamente interessante é série de encontros entre o cantor popstar Sting e o lider indígena Raoni, que se estendeu da Amazônia até os principais centros urbanos do mundo, um encontro entre uma cultura intrinsecamente brasileira em ascenção e o amplo movimento de internacionalização das lutas ambientais.
Altamente interessante é série de encontros entre o cantor popstar Sting e o lider indígena Raoni, que se estendeu da Amazônia até os principais centros urbanos do mundo, um encontro entre uma cultura intrinsecamente brasileira em ascenção e o amplo movimento de internacionalização das lutas ambientais.
Raoni no palco com Sting - Roberto Larroude, S. Paulo, 2009 |
Demonstração de uma enorme mudança de mentalidade, se o compararmos, por exemplo, a outro encontro histórico, já citado aqui, a viagem de Rondon e Roosevelt, em 1910, pelos sertões do Brasil, à procura do rio da Dúvida.
Sem dúvida, até mesmo os encontros mudam com o tempo...
Dedicado ao generoso amigo
Marcos Vinício Ildefonso da Cunha,
fotógrafo e livreiro, que há longo tempo sugere o tema...