segunda-feira, 28 de maio de 2012

Histórias subterrâneas do Metrô do Rio


Convite Exposição SUB - CCJF - Rio de Janeiro, 2012
A História tem histórias subterrâneas, nem todas são tão visíveis quanto estas...

É bem o que pode ser visto na exposição SUB, do fotógrafo Marcelo Carnaval, com fotos atuais das instalações e dos usuários do metrô do Rio de Janeiro, aberta no Centro Cultural da Justiça Federal até 1 de Julho de 2012. 







Foto Marcelo Carnaval, expo SUB - CCJF - Rio de Janeiro, 2012
A estética das estruturas é imperativa, é claro. 
Carnaval trata disto muito bem, mas não deixa de integrar a elas as pessoas, que são, evidentemente, os protagonistas. Cristina Chacel, no convite, ao apresentar a exposição, esclarece como o autor consegue tal integração: “A sub-cidade de Carnaval floresceu em gente. (...) É cidade que submerge para emergir em encontros, carnavalizada pelo artista que extrai alma da pedra bruta e brinca de fazer luz”.
Foto Marcelo Carnaval
Expo SUB - CCJF - Rio de Janeiro, 2012 


As imagens de Marcelo Carnaval não só abriram novas percepções estéticas (e até práticas) em relação ao Metrô do Rio, como me provocaram um "choque de memória": tornou-se necessária uma ida aos meus (também subterrâneos) arquivos (caixas e caixas de papel fotográfico e de plástico ondulado, com recortes de revistas e jornais, cartelas de negativos ou slides e fotos copiadas em diversos tamanhos) para a recuperação de uma matéria sobre a inauguração do primeiro trecho do Metrô, que lembrei ter feito para a revista Manchete, no distante ano de 1979...









Não achei justamente a abertura (o título e créditos), mas lá estavam as páginas amarfanhadas, com uma anotação a caneta: “Manchete # 1386”. A edição da revista deu ênfase aos seus interesses da época, com várias fotos de três temas: as instalações do metrô, "elogiadas pelo próprio presidente francês Giscard d'Estaing", a reurbanização da cidade, depois de demoradas obras, e a presença pouco habitual do presidente Ernesto Geisel, em versão quase populista...

Faz-se de tudo, mas lembro que o grande desafio (em termos fotográficos) foi “calibrar” a cor da luz nas fotos de interiores. Era um novo tipo de iluminação (a cada hora lançavam um novo tipo de lâmpada) e, para corresponder à percepção comum (ou, na verdade, às exigências meio neuróticas dos editores, que sempre queriam todas as imagens “equilibradas”), e dadas as limitações da época (o uso de slides, que não permitiam correções posteriores), era necessário fazer a filtragem da luz, corrigir o seu desvio para azul e/ou verde, nem sempre com resultados muito exatos... 

Estação Cinelândia - revista Manchete - abril, 1979 - foto Aguinaldo Ramos 


Um problema, para a revista, semelhante ao do desfile de Carnaval (o outro, não o nosso fotógrafo...), cujas luzes também precisavam ser corrigidas. Lembro qualquer coisa de usar uma combinação dos filtros magenta e amarelo (20% de um, 30% de outro, por aí), tanto em um quanto no outro caso. 
Visor prismático
Capuchão
Ou, quando não disponível o filtro exato, apelava-se para um recorte redondo da folha de gelatina correspondente, que era aplicado artesanalmente entre o filtro UV (comum) e a lente da câmera 35mm, à época uma Nikon F2 de visor prismático removível (a “cabeça” da câmera), à qual se podia acoplar um “capuchão” para facilitar o enquadramento da imagem por cima, ao estilo das Rollei Flex e Hasselblads.



O difícil da História (quando falamos daquela em que se está) é vê-la em movimento... 
A lembrança dos primórdios ou a observação do contemporâneo, no Metrô do Rio, não pode desviar nossa atenção do que acontece agora e do que se pode imaginar que vem por aí, basta apenas projetar para o futuro algumas das fotos de Marcelo Carnaval. 


Foto Marcelo Carnaval - Expo SUB - CCJF - Rio de Janeiro, 2012




Fato é que, desde a “invenção” da ligação direta da Linha 2 com a Linha 1 na Central, a óbvia proposta de um metrô em rede foi desprezada. Pelo que está acontecendo na operação (as paradas e os riscos) e pelas obras de extensão que estão sendo feitas (a emenda de uma falsa Linha 4 a partir da estação Ipanema), esta desconfiguração do Metrô, segundo especialistas, será conhecida no futuro como um grande erro histórico. 
Foto Marcelo Carnaval - Expo SUB - CCJF - Rio de Janeiro, 2012



Os que tomaram estas decisões inconsequentes têm esta vantagem: quando (e se, é claro) a História confirmar a previsão de um Metrô cada vez mais angustiante e insuportável, já não estarão mais no poder...