A paisagem está em todo lugar, ela é necessariamente onipresente...
E também está, desde o início, na fotografia!... A primeira de todas as fotografias é a paisagem que o seu autor, Joseph Nicéphore Niépce, via da janela de seu laboratório. Afinal, era mesmo necessário um modelo relativamente fixo: precisou de oito horas de exposição para registrar a foto!
Cais da Praia do Peixe - Louis Compte - Rio de Janeiro, 1840 |
Não por acaso, as mais antigas fotografias brasileiras também registram paisagens... São daguerreótipos (imagens únicas, em placa de metal), feitos pelo abade Compte, divulgador da técnica em viagem do navio-escola franco-belga L’Orientale, em Salvador, Bahia, dezembro de 1839 (desaparecidas), e no Rio de Janeiro, janeiro de 1840.
Além do Paço Imperial e do Chafariz de Mestre Valentim, temos a paisagem do cais da extinta Praia do Peixe, com o prédio da Alfândega (atual Casa França-Brasil) e o mosteiro de São Bento.
São muitos os paisagistas do Império, é uma lista longa, a maioria estrangeiros, e há uma profusão de livros a respeito.
O maior deles, sem dúvida, é o brasileiro Marc Ferrez, filho do franceses, cuja especialidade sempre foi a fotografia de paisagem, a ponto de (aproveitando os longos tempos de exposição das fotos e se posicionando várias vezes) se colocar dentro dela!
Autorretrato com panorama do Rio de Janeiro - Marc Ferrez, 1885 |
Já no século XX, dos anos 30 aos 50, outra grande leva de fotógrafos estrangeiros, em parte escapulindo das guerras europeias, mas também atraídos pelas paisagens brasileiras, trouxe contribuições importantes, não só à fotografia como a toda nossa imprensa, dando novos padrões visuais às revistas ilustradas.
Bagé, RS - Fulvio Roiter, 1957 |
Um bom exemplo pode ser visto na exposição de fotos de Fulvio Roiter, um dos maiores fotógrafos italianos vivos, que, em 1957, viajou todo o Brasil fotografando para a revista Manchete. Uma verdadeira síntese do país, que, com curadoria de Cristianne Rodrigues e Milton Guran, do FotoRio 2011, pode ser vista até 17 de julho no Centro Cultural dos Correios.
De meados do século XX para cá, o suporte da imagem torna-se cada vez mais sensível e as câmeras podiam ficar cada vez menores (e mais leves), ia dando a impressão, chegando nos anos 90, de que a fotografia de paisagem estava resolvida, seria questão apenas de escolha do ângulo e do momento. Mas, eis que chega a revolução digital...
A fotografia – a princípio, um objeto bidimensional (com altura e largura, que apenas simula profundidade) – já tivera uma “expansão” no início do século XX, pela inserção do tempo (o hábil truque da sucessão de quadros ligeiramente diferentes), resultando no cinema. Com a informática, vem uma nova ampliação dos seus limites, agora no espaço: através de softwares que as encaixam, são criadas as chamadas fotografias “esféricas” ou “imersivas”, aquelas em que a imagem pode ser vista em virtuais 360º.
Como exemplo [imagem fixada: clique no título para ver o original], o Rio de Janeiro em 360º, uma foto (ou o quê?...) do fotógrafo Ayrton Camargo, um dos mais produtivos nesta linha de trabalho. E a esta altura não estamos falando apenas de paisagens: já são feitos assim, por exemplo, casamentos e reportagens...
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3D na cidade - Mario Amaya, 2010 |
E os novos recursos não param por aí... Fotógrafos comerciais já oferecem fotos em 3D, embora a gente não saiba ainda muito bem aonde conseguir os tais óculos especiais com lentes bicolores...
E, de repente, inventam a foto “animada”, batizada de “cinemagraph”, um bom aproveitamento de um recurso comum na internet, os “gifs”...
[Se o sinal não mudar de cor, veja aqui]
Sinal.- Daniel Farjoun, 2010 |
[Se o sinal não mudar de cor, veja aqui]
Ainda é fotografia?...
Pode ser, mas, reconheçamos, há, enquanto ainda usamos a base em papel, ao menos uma limitação: quando a foto é impressa, o movimento some...
De qualquer modo, a fotografia tem muita história pela frente.
Ou será que aquela coisa que conhecemos como “fotografia” já está na hora de entrar para a História?...
Grato ao fotojornalista Masao Goto Filho
pelas informações de ordem técnica.