domingo, 12 de junho de 2011

Namorou?... Epa!... E se alguém fotografou?...

Há poucos dias (10 de Junho), recolhido em seu apartamento do Leblon, João Gilberto, a “nossa Greta Garbo”, fez 80 anos de muita competência artística e bastante mau humor...
João Gilberto testa o som do Canecão
Aguinaldo Ramos, 1979
Entre tantas das suas queixas e esquivas, lembro, muito particularmente, do famoso show do Canecão (que não fez!), em 1979. Perfeccionista ao extremo, recusou-se a aceitar a má qualidade do som ambiente e causou tal confusão que virou até conto e nome de livro premiado (Jabuti, 1982) de Sérgio Sant’Anna.

Presente ao local, fotografando para a revista Amiga, da Bloch, relatei mais tarde aqueles angustiosos momentos no texto “Nunca mais, nunca mais...”.
Bem, tudo isto, quiproquós, cancelamentos etc, é o que de menos importante se pode falar sobre João Gilberto, ainda mais no Dia dos Namorados... Muito maior é a sua obra musical, dividida entre patos & barquinhos e as inúmeras canções de amor que cantou (dilema que sintetiza, ao lado de seu fã Caetano Veloso, em Doralice, de Dorival Caymmi e Antônio Almeida).
Doralice, eu bem que lhe disse, amar é tolice, é bobagem, ilusão...
Eu prefiro viver tão sozinho, ao som do lamento do meu violão.
 .
Esta abertura musical serve, afinal, como gancho para uma observação que não deixa de ser curiosa... Enquanto a música brasileira é, praticamente toda ela, centrada em casos de amor, a fotografia brasileira não tem o tema entre os seus prioritários. Pode ser por conta da ênfase dos nossos fotógrafos em problemas sociais ou políticos, mas o fato é que a fotografia internacional tem muito mais exemplos de fotos de casais que se tornaram ícones de uma época ou movimento, dos beijos arranjados nas ruas de Paris a casais e poses provocativos em New York.
Casamento de Diacuí e Aires da Cunha, 1952
O assunto merece aprofundamento, mas, abrindo o campo, podemos pinçar algumas candidatas. Por exemplo, nos anos 50, tempos de uma imprensa poderosa, invasiva e “autoral” (no sentido de criar seus próprios fatos...), o Brasil “assistiu” (pelas páginas de O Cruzeiro e Noite Ilustrada) ao casamento entre um sertanista branco, Aires Cunha, e uma índia do Xingu, Diacuí, celebrado na igreja da Candelária. Se não era original, sendo uma das bases da formação do povo brasileiro, este casamento interétnico tornou-se um marco desta integração, que sempre oscilou entre a alegria e a tragédia, como na própria história do casal.
.
E como estamos em pleno FotoRio 2011, o maior evento da Fotografia no Rio de Janeiro, vale lembrar uma foto de seu organizador, Milton Guran, de seus tempos de fotojornalista, quando foi um dos criadores da agência Ágil, de Brasília.

4,30h, 31 de Maio, Salvador, BA - Milton Guran, 1979
Na luta de mudar a difícil relação entre fotógrafos e o mercado editorial e mostrar uma outra visão dos fatos, Guran acompanhou o Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) de Salvador, dez anos após a prisão coletiva de estudantes no de Ibiúna, SP. Material (veja no site do LABHOI, Laboratório de História Oral e Imagem, da UFF) que lhe rendeu um livro, cujos título e capa vêm da foto, feita às 4,30h da manhã, de um casal que ratificava o final feliz do evento...
.
Enquanto a liberdade se (re)afirmava, os fotojornalistas estavam atentos à Abertura política e a uma anunciada liberalização de costumes... Tais expectativas, porém, vêm se frustrando, à medida em que os neoliberalismo e “legalismo” dominantes estimularam a criação da “mercadoria imagem” e de uma indústria de processos, que inflacionam direitos para transformá-los em negócios...
[Veja minha opinião em Direitos Autorais: o essencial]

            E tudo isto em plena explosão das redes sociais, dos álbuns virtuais de fotografias, das imagens registradas por câmeras automáticas a serviço de governos e, também, empresas particulares, das detalhadíssimas fotos de satélites e de outros aparelhos e dispositivos que colocam todas as nossas imagens à disposição de... quem mesmo?...
Casal com tarja e toalha - Rogério Reis, 2011

Não por acaso, Rogério Reis, na exposição “Ninguém é de ninguém”, no Centro Cultural da Justiça Federal, do FotoRio, nos poupa de mais de 1000 palavras para, fazendo jus ao mote, demonstrar, pela ironia das imagens – como as de casais que dividem, ou não, a mesma tarja – , as incoerências e complexidade desta situação...

6 comentários:

Luiz Antonio Bandeira disse...

Super!
Nota MIL!
O teu Blog tá arrebentando, em termos de temas, texto e, claro, imagens!
Beijão,
Band.

Solange Noronha disse...

O blog está lindo, Guina!
Tanto a matéria do namoro como as do meio ambiente.
Beijo,
Solange.

Helena Maria Marques Araujo disse...

ADOREI SUA CRÍTICA, NUNCA TINHA PENSADO SOBRE ISSO DESSA FORMA !!
PARABÉNS !
ABS,

HELENA

Charles Monteiro disse...

Parabéns, excelente material sobre a fotografia e amor.

Gostei muito de ler, gosto de visitar o seu blog.

Abraço do colega

Charles Monteiro

PPGH/PUCRS.

Marcos Arzua disse...

Guina, vc é craque!
Nada como um artista do visual provar domínio com as palavras em crônicas certeiras.
Tem cara que joga nas onze, né?
Não custa lembrar do legado dos diários de Van Gogh.
Seus relatos são interessantes e úteis à memória do país.
Vou assistir de camarote seu desenvolvimento e defesa de tese.

O blog está cada vez melhor.

Ana Maria Motta Ribeiro disse...

Guina,
Adoro sua página.
Leio tudo e te admiro. Sobretudo a sua sensibilidade.

Abçs,
Aninha