Destruir a Natureza: será que faz parte da Natureza Humana?...
É certo que a Cultura separou-se da Natureza, e já lhe é superior?...
E o (ser) Humano (nós, o que cuida e o que maltrata) saberá manter-se vivo no planeta Terra?...
No momento, no Rio de Janeiro, duas belas e sensíveis exposições fotográficas tratam destes assuntos, repondo a fotografia em uma de suas mais nobres funções, a de um olhar da consciência.
Evidentemente, o fotógrafo J.L.Bulcão (em parceria com o designer francês Antoine Olivier), pelo que mostra em sua exposição “Guardiões da Floresta Amazônica”, acredita que sim!...
Colheita de açaí - J.L.Bulcão, 2009 |
Em viagens pela Amazônia, em 2009, registraram comunidades integradas à floresta: quebradeiras de coco-babaçu, coletores de açaí, seringueiros, índios sustentados pelo guaraná... A exposição, que inclui peças de artesanato e registros de som, exalta a capacidade das comunidades de se auto-sustentarem.
Estas preocupações decorrem das necessidades práticas... No início do século XX, as sucessivas secas que afetavam o Rio de Janeiro levaram a um pioneiro esforço de recuperação ecológica: o replantio da Floresta da Tijuca, violentamente invadida pelas fazendas de café, o novo grande negócio do latifúndio brasileiro de então.
Major Archer |
Foi o Major Archer e seus seis escravos (Constantino, Eleuthério, Leopoldo, Manoel, Matheus e Maria) que lideraram esta empreitada, com mais 22 trabalhadores assalariados, plantando em 13 anos quase 100 mil mudas de espécies nativas (porém, introduziram plantas importadas, como a jaqueira, hoje dominante em grandes áreas, quase uma praga...).
Chico Mendes em Piracicaba - Pauléo, 1988 |
Uma causa que pode ser mortal... Sempre houve quem propusesse o empate, o aproveitamento sensato dos bens naturais, mas a engrenagem de destruição humana já levou muitos destes. Entre eles, Chico Mendes, que, enquanto lutava pela vida, antevia (como se vê na foto de Pauléo) o seu imediato destino...
Desta época, em 1865, um dos primeiros exemplos de fotografia a serviço da consciência ecológica, a foto de George Leuzinger, da Carvoaria do Palatinato Superior, em Petrópolis-RJ, conforme emocionado texto de Pedro Vasquez.
Carvoaria Palatinato Superior, Petrópolis - George Leuzinger, 1865 |
Fica a pergunta: a floresta aguenta modelos econômicos mais complexos? E os que vêm de fora, aprenderão, a tempo, a preservá-la?
A exposição do fotógrafo José Caldas, presidente da AFNATURA - Associação dos Fotógrafos de Natureza, traz mais dúvidas, mas é indicação da profundidade das mudanças ambientais no Brasil.
Sugestivamente intitulada “Brasil e a Transformação da Paisagem” (o convite é uma brilhante “charge fotográfica”: um mapa do Brasil, com pobreza e futebol), é uma seleção (com curadoria de Ângela Magalhães e Nadja Peregrino) de mais de 20 anos (e vários livros) de seu trabalho, que ele chama de “documentação geográfica”.
Sugestivamente intitulada “Brasil e a Transformação da Paisagem” (o convite é uma brilhante “charge fotográfica”: um mapa do Brasil, com pobreza e futebol), é uma seleção (com curadoria de Ângela Magalhães e Nadja Peregrino) de mais de 20 anos (e vários livros) de seu trabalho, que ele chama de “documentação geográfica”.
Campo de futebol na Serra da Canastra - José Caldas |
O tema agora ganha belas fotos em nobres espaços, mas, afinal, quais são as fotos históricas da “transformação da paisagem” no Brasil?...
O próprio José Caldas responde, com conhecimento de causa, lembrando o desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica, do Cerrado: “Tudo isso tem fotos dispersas, mas não ''A'' foto! Essas coisas acontecem lentamente, por isso a gente não nota nem reclama...”.
Mas, passado um tempo, sempre podemos perceber os gestos fundadores destas grandes tragédias ambientais ou entender que até mesmo esforços sinceros podem levar a duras destruições...
O próprio José Caldas responde, com conhecimento de causa, lembrando o desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica, do Cerrado: “Tudo isso tem fotos dispersas, mas não ''A'' foto! Essas coisas acontecem lentamente, por isso a gente não nota nem reclama...”.
Mas, passado um tempo, sempre podemos perceber os gestos fundadores destas grandes tragédias ambientais ou entender que até mesmo esforços sinceros podem levar a duras destruições...
No início do século XX, a República militarista, com suas ideias positivistas, leva as expedições do futuro Mal. Cândido Rondon aos limites ocidentais do país: não havia mais dúvidas sobre a chegada da Civilização aos sertões!... Até o próprio Rio da Dúvida foi identificado, em 1914, graças à expedição em que Rondon guiou o ex-presidente americano Theodore Roosevelt aos confins de Rondônia, numa epopeia quase lhes foi fatal, em 237 dias pela Amazônia, história não podia deixar de virar livro...
Foi-se a dúvida: o atual Rio Roosevelt passa pelas terras dos Cinta-largas, hoje rasgadas por lavras de diamantes...
Rondon (2o à esq) lancha com Roosevelt (2o à dir) durante a Expedição, 1914. |
Eixos de Brasília no Cerrado - Mário Fontenelle, 1957 |
O marco zero está na foto de Mário Fontenelle, considerada pelo fotógrafo e antropólogo Milton Guran, ao comentar sua obra, “a mais extraordinária fotografia do Brasil moderno, uma imagem seminal que simboliza o momento em que o brasileiro tomou posse efetiva do seu destino”.
Momento de chegada dos “passageiros da esperança” ao Planalto e da abertura de caminhos que levariam à dominação do Cerrado e ao acesso aos mistérios da Amazônia, a expansão do poder.
Médici inaugura Transamazônica - 1970 |
Em 1970, em Altamira, Pará, o ditador-presidente Médici inaugura uma placa de bronze, sugestivamente incrustada no tronco de uma castanheira, e com este ato marca o início oficial da construção da rodovia Transamazônica, a tal que ligava “nada a lugar nenhum”...
Hoje, a foto lembra a destruição de grandes áreas de florestas no Pará e Mato Grosso por empresas que aproveitaram os incentivos do “milagre econômico”.
Hoje, a foto lembra a destruição de grandes áreas de florestas no Pará e Mato Grosso por empresas que aproveitaram os incentivos do “milagre econômico”.
E a estes outros gestos se seguiram, e os índices das queimadas variam mas não recuam, e as diretrizes do novo Código Florestal são discutidas mas discutíveis, e, com tudo isto, a História continua...
Mas, só enquanto o ser humano estiver sobre a face da Terra.
Ou, talvez, de outras terras, espaço afora...
Mais uma marca na História...
[Saiba quem ele foi e o que pensava, clicando aqui]
Mas, só enquanto o ser humano estiver sobre a face da Terra.
Ou, talvez, de outras terras, espaço afora...
José Cláudio Ribeiro da Silva - Nova Ipixuna, Pará |
Mais uma marca na História...
O extrativista e ativista ambiental José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva, ambos com 54 anos, foram executados por pistoleiros em Nova Ipixuna, Pará, no mesmo instante em que este texto estava sendo escrito...