sexta-feira, 13 de maio de 2011

13 de Maio de 1888: Abolição do Trabalho Escravo?...

Em nosso apoteótico (mas às vezes reflexivo) calendário, nem bem saímos do Dia do Trabalho e já chegamos ao Dia da Abolição da Escravatura. Essas coincidências, embora inúteis, são sempre sugestivas...
A escravidão no Brasil, por exemplo... Foi abolida por uma lei de dois parágrafos, logo chamada de “Lei Áurea”, aprovada “na pressão” (popular) pela Câmara no dia 10, e pelo Senado nos dias 12 e 13, e validada, “com uma penada” (como se dizia antigamente), em 13 de Maio de 1888, um domingo, às três da tarde, pela Princesa Isabel, a regente do Império, logo aclamada pelos combativos abolicionistas como “A Redentora” e festejada pela multidão, à frente do Paço, e pelo povo, em festas, desfiles e missas.  
Aprovação da Lei Áurea na Câmara - 10/05/1888 - A. Luiz Ferreira
           
Sabe-se de alguns poucos registros fotográficos. José Murilo de Carvalho, na Revista de História da Biblioteca Nacional deste mês, em artigo sobre “o mais importante acontecimento da história do Brasil independente”, contabiliza apenas 25 fotos conhecidas no tema (algumas, de outros locais do país).
Multidão à frente do Paço - 13/05/1888 - A. Luiz Ferreira
          
Na Coleção Princesa Isabel, na Biblioteca Nacional, estão as 15 imagens fundamentais, que formam uma belíssima reportagem fotográfica, presenteadas à Princesa pelo fotógrafo Antonio Luiz Ferreira, que fez seu marketing pessoal em cima de um bom trabalho, mas é, de resto, praticamente desconhecido...

As fotos foram recuperadas e publicadas, em 2008, no livro Coleção Princesa Isabel – Fotografia do Século XIX por Pedro Corrêa do Lago e sua mulher Bia Corrêa do Lago.
R. do Ouvidor e prédio do jornal O Paiz

Maio de 1888 – A. Luiz Ferreira
 



           
Há muitas fotos de legítimos escravos, nos estúdios ou no trabalho (veja neste mesmo blog), mas (e não por acaso...) praticamente não há fotos das diversas formas de tortura de escravos (leia texto de Ronaldo Vainfas) registradas em outros meios, dos textos às gravuras. Uma forma de “esquecimento histórico antecipado”, praticado pelos profissionais criadores de imagens, “naturalmente” induzidos pelas classes dominantes daquela sociedade escravista que é, apenas, o nosso passado não tão distante...   

O que leva à necessária pergunta: no Dia da Abolição, o trabalho escravo no Brasil foi também abolido?...
Os fatos demonstram que não, e basta acompanhar o noticiário: siderúrgicas e frigoríficos, a toda hora, são pegos reduzindo custos graças à produção escravocrata, de carvão ou de gado...
Mas há uma grande diferença em relação àqueles tempos: a atitude dos fotógrafos. E vários dos nossos contemporâneos têm denunciado o trabalho escravo, em imagens crueis mas, muitas vezes, surpreendentemente singelas.
Carvoeiros - Marcos Prado
Jardim Gramacho - Marcos Prado
Entre eles, Marcos Prado, que se tornou também produtor e diretor de cinema. 
A princípio interessado em típicos temas da classe média Zona Sul carioca, demonstrou grande persistência (e paciência) no registro de questões sociais, fazendo pelo menos duas impressionantes séries de fotos, que resultaram em livros e filmes: Os Carvoeiros (que lhe rendeu vários prêmios, inclusive o Marc Ferrez Funarte de 1997) e Jardim Gramacho (lixão em Duque de Caxias, RJ, base para o documentário Estamira).
Garoto carvoeiro, Fazenda Financial, MS
  J. R. Ripper, 1988
“Seu sonho era ser jogador de futebol”,
diz a legenda no livro Imagens Humanas.
Índio guarani, boia-fria em canavial, MS
 J. R. Ripper
Um outro é João Roberto Ripper. Oriundo do fotojornalismo carioca, tendo coberto importantes acontecimentos, como as Diretas Já, passou a dedicar-se a temas sociais (trabalho escravo, infantil, índios, prostituição, saúde), produzindo, em seu projeto Imagens da Terra, ensaios referenciais para a fotografia documental brasileira. 
Ripper apresenta seu trabalho
na Sexta Livre, Ateliê da Imagem - Rio.
13 de Maio de 2011 - A.Ramos
Criou a agência Imagens do Povo, base da Escola de Fotógrafos Populares da Maré, enquanto trabalha individualmente no projeto Imagens Humanas. Por sua obra, mereceu, em 2010, os prêmios Conrado Wessel e Marc Ferrez Funarte. 

Para não dar um tom desesperançado (afinal, houve avanços, das leis trabalhistas às cotas de acesso, ainda que a má distribuição de renda continue radical...), o melhor é voltar à digníssima fotorreportagem de Luiz Ferreira, para encerrar esta postagem com a majestosa fotografia da missa campal do dia 17, no campo de São Cristóvão.
           
Do ponto de vista fotográfico, é impressionante que tenha conseguido a participação total da multidão (não havia megafones ou altofalantes, apenas a atração pela câmara...): estão praticamente todos ligados no fotógrafo!
Missa em Ação de Graças pela Abolição da Escravatura - 17/05/1888 - A. Luiz Ferreira
[clicar nas fotos para ampliar]

Do ponto de vista histórico, sendo este o primeiro momento de igualdade para todos os brasileiros, é emocionante observar a convivência um tanto desconfortável (mas quase amorosa...) entre brancos e negros (ainda que poucos), misturados, lado a lado, em todo o extenso quadro da fotografia. 
A exceção, é claro (e me preocupam as conotações, no caso, desta palavra...), está no canto inferior esquerdo, justo no palanque onde se postam a Família Imperial (ao centro, a Princesa Isabel) e os principais políticos e autoridades: não é difícil notar (embora seja, afinal, plenamente compreensível) que são todos brancos...  

10 comentários:

Luiz Antonio Bandeira disse...

S U P E R ! ! !
MAIS UMA VEZ, A R R E B E N T A S T E A BOCA DO BALÂO!!!
Esse blog da FOTOHISTÓRICA, brilhante criação tua, tem que ser adotado pelo MEC para o ensino fundamental e médio, OBRIGATÓRIO!
Um abração,
Band.

Ricardo Ruiz disse...

Dá lhe Guina !!!
É o samba do crioulo doido ?
ou
a Lei do eterno retorno ?
abraço,
Ricardo

Dora Locatelli disse...

Eu me sinto honrada e melhor ao tomar conhecimento dos acontecimentos passados, com mais detalhes, através das fotos dos fotógrafos daquele tempo. Vai-se a sensação do desconhecimento, da alienação. Abrem-se mais janelas para o meu olhar. Devo isso a você, Guina.
Aqui no Brasil, muito pouca coisa mudou. É só eu viajar para minha terra, no interior do interior de Minas que constato isso, na hora.
Obrigada.
Abração da
Dora Locatelli

Juliano Serra disse...

Aguinaldo
Há quanto tempo!!
Lembra-se do seu colega de Senac ?, pois sou eu mesmo.
Acho que sabes que moro em Brasília e sou professor de foto e vídeo na UnB...
Parabéns pelo blog, muito instigante e relevante nas causas que sugere.
Vou ler com calma....
Espero que possamos nos encontrar em breve
Grande abraço

Juliano

Cláudia Versiani disse...

Seu trabalho continua maravilhoso, Guina! Parabéns!
Sugestão, por que vc não divulga no facebook, como faz o Fernando Rabelo? É uma boa exposição, muita gente fica sabendo.

Ana Maria Motta Ribeiro disse...

Guina,
Vc está se superando!
Obrigado,
Aninha

Lidia Vestes disse...

Como no maravilhoso samba-enredo da Mangueira (1988): "livre do açoite da senzala; preso na miséria da favela "

Marcel W. Alves disse...

Do Dudu Nobre, mas parece que tem mais compositores, não sei ao certo.
100 Anos De Liberdade - Realidade Ou Ilusão?

Será...
Que já raiou a liberdade
Ou se foi tudo ilusão
Será...
Que a lei Áurea tão sonhada
A tanto tempo imaginada
Não foi o fim da escravidão
Hoje dentro da realidade
Onde está a liberdade
Onde está que ninguém viu

Moço...
Não se esqueça que o negro também construiu
As riquezas do nosso Brasil

Pergunte ao criador
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela

Sonhei....
Que Zumbi dos Palmares voltou
A tristeza do negro acabou
Foi uma nova redenção

Senhor..
Eis a luta do bem contra o mal
Que tanto sangue derramou
Contra o preconceito racial

O negro samba
Negro joga capoeira
Ele é o rei na verde e rosa da Mangueira.

Dá pra ouvir no youtub", http://youtu.be/XpEOAINtKu0

Clarisse Fukelman disse...

Bacana, Guina!

Anônimo disse...

isso não me ajudou nem um pouquinho no meu trabalho de história .o que eu preciso é sobre a abolição da escravidão de 13 de maio de 1888.
e o trabalho nao vale pouco não.